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O novo retorno ao velho normal

Uma das mais quentes discussões mundiais do momento é o retorno às atividades pós-pandemia. Publicações do mundo inteiro estão se dedicando ao tema.

Como será a volta? Vale a pena voltar 100% para o escritório? Como fazer o trabalho híbrido? A opção deve ser do empregado ou do empregador? Como será o controle do horário de trabalho? Se um colaborador se acidentar em sua casa, será considerado “acidente do trabalho”? Como esse controle será feito? No trabalho remoto, o empregado deve custear sua alimentação por conta própria ou a empresa terá que participar dessas despesas? Pode a empresa controlar eletronicamente o que o seu funcionário está fazendo ou mesmo onde ele se encontra durante o trabalho remoto?

Esses e outros tantos questionamentos estão em cima da mesa não só de empregadores e empregados, mas também de governos que terão que rever toda a legislação trabalhista para estes novos tempos de retorno ao trabalho.

O tema do retorno ao velho-novo normal está longe de ter consenso entre as pessoas, mesmo entre empresários e estudiosos de administração e gestão de pessoas.

No momento em que escrevo esta mensagem, 84% dos franceses já voltaram ao escritório e menos de 40% na Grã-Bretanha voltaram. Jack Dorsey, presidente do Twitter, diz que a equipe da empresa pode trabalhar em casa “para sempre”, mas Reed Hastings, o fundador da Netflix, diz que trabalhar em casa é “um puro negativo”.

Só para se ter uma ideia de como o tema é polêmico, o Facebook assinou um novo contrato de aluguel de um grande escritório em Manhattan, NY e a Bloomberg está oferecendo um bônus até 75 dólares por dia para levar seus trabalhadores de volta ao seu prédio em Londres. Os governos, sobre os quais parte do fardo recairá se a pandemia persistir, estão adotando uma abordagem semelhante, incentivando as pessoas a “voltar ao trabalho” – com o que querem dizer “voltar ao escritório”.

O aumento da felicidade de trabalhar em casa pode tornar os trabalhadores mais produtivos. Na maioria dos países, o trabalhador médio relata que fez em casa, mais do que faria no escritório. No entanto os estudiosos afirmam ser difícil ter total certeza se o trabalho em casa ou no escritório é mais eficiente.

Até que ponto o trabalho doméstico continuará popular por muito tempo depois que a pandemia passar, vai depender de uma barganha entre empresas e trabalhadores. Mas também vai depender de as empresas adotarem ou rejeitarem a teoria controversa de que trabalhar em um escritório pode melhorar ou impedir a produtividade.  Em outras palavras, as mais modernas pesquisas mostram que a proximidade pode ajudar as pessoas a terem novas ideias, mas elas não precisam necessariamente estar em um escritório para fazer isso.

Leesman, uma consultoria inglesa pesquisou a experiência de mais de 100.000 executivos em todo o mundo durante a pandemia. Ela conclui que a satisfação em trabalhar em casa varia de acordo com o fato de a pessoa ter ou não um escritório ou espaço dedicado e confortável em sua casa para trabalhar.

E a verdade é que nem todos podem trabalhar em casa, mesmo que queiram. Pesquisa publicada em abril por dois professores da Universidade de Chicago, descobriu que, nos países ricos, cerca de apenas 40% da força de trabalho estava em ocupações que poderiam ser concluídas de forma plausível em suas casas.

Portanto, é incerto se os benefícios de trabalhar em casa podem durar por um período grande de tempo. Um estudo sobre trabalhadores de call centers chineses é um dos poucos a avaliar o impacto de trabalhar em casa por muitos meses. Os autores do estudo descobriram que muitas pessoas estavam desesperadas para voltar ao escritório, em parte porque se sentiam solitárias.

Além disso, algumas empresas que tentaram trabalhar remotamente em grande escala no passado acabaram abandonando essa prática, incluindo a Yahoo, uma empresa de tecnologia. “Algumas das melhores decisões e percepções vêm de discussões em corredores e lanchonetes, conhecendo novas pessoas e de equipes improvisadas em reuniões”, afirmaram seus gestores.

O tema é mais que controverso e cada caso é um caso diferente. Assim, cada empresa terá que tratar da sua própria realidade com muita atenção e cuidado.

Pense nisso. Sucesso!

 Luiz Marins
Antropólogo e escritor – associado da ADCE – www.marins.com.br

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