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Uma Economia Cristã para um mundo em colapso

Nos vemos às voltas com um novo projeto eclesial chamado “Economia de Francisco”. Esta proposta urgente e necessária vem sendo caluniada por grupos pseudo-católicos como anticristã, marxista e de perfil comunista. Se, de fato, fosse assim, jamais poderia ter sido sugerida por um Pontífice. Mas seria esta, a verdade? Vamos aos fatos. E à verdade.
O encontro intitulado “Economia de Francisco”, que será oportunamente sediado em Assis, após o recesso causado pela pandemia viral de 2020, tem por objetivo construir um “pacto”, um “acordo”, entre os jovens para a construção de um mundo novo, onde o empreendedorismo seja guiado por valores verdadeiramente cristãos. O encontro é direcionado para jovens economistas e empresários, homens e mulheres de todo o mundo. O objetivo é claro: começar a estudar e praticar uma economia diferente, que promove vida e não morte, que inclui, humaniza e cuida da criação. O encontro não tem motivação impor uma nova ordem econômica, mas propor uma “aliança cristã” em favor da construção de um mundo melhor. Antes já chamada por São João Paulo II de “civilização do amor”.
Este mesmo Santo Súbito na encíclica Centesimus Annus (1991), logo após a queda do muro de Berlim (1989), baluarte decadente de uma falida experiência comunista de sociedade, evidencia que a Igreja Católica “não tem modelos a propor”(42-43). Isso não quer dizer que fique muda e omissa diante da necessidade de orientar as consciências humanas dirigentes do mundo econômico, político e social, para o bem desejado por Deus para a humanidade.
Questionou o Papa João Paulo II naquela ocasião: pode-se porventura dizer que, após a falência do comunismo, o sistema social vencedor é o capitalismo e que para ele se devem encaminhar os esforços dos Países que procuram reconstruir as suas economias e a sua sociedade?.
E iterou: a resposta apresenta-se obviamente complexa. Se por “capitalismo” se indica um sistema econômico que reconhece o papel fundamental e positivo da empresa, do mercado, da propriedade privada e da consequente responsabilidade pelos meios de produção, da livre criatividade humana no setor da economia, a resposta é certamente positiva, embora talvez fosse mais apropriado falar de “economia de empresa”, ou de “economia de mercado”, ou simplesmente de “economia livre”. Mas se por “capitalismo” se entende um sistema onde a liberdade no setor da economia não está enquadrada num sólido contexto jurídico que a coloque ao serviço da liberdade humana integral e a considere como uma particular dimensão desta liberdade, cujo centro seja ético e religioso, então a resposta é sem dúvida negativa. A solução marxista faliu, mas permanecem no mundo fenómenos de marginalização e de exploração
Assim, embora a Igreja não tenha modelos a propor, conclui o Papa: a Igreja oferece, como orientação ideal indispensável, a própria doutrina social que — como se disse — reconhece o valor positivo do mercado e da empresa, mas indica ao mesmo tempo a necessidade de que estes sejam orientados para o bem comum. Ela reconhece também a legitimidade dos esforços dos trabalhadores para conseguirem o pleno respeito da sua dignidade e espaços maiores de participação na vida da empresa, de modo que eles, embora trabalhando em conjunto com outros e sob a direção de outros, possam em certo sentido “trabalhar por conta própria” exercitando a sua inteligência e liberdade.
E salientou, por fim, a necessidade contínua de “diálogo” e a “colaboração” de todos os homens de boa vontade, em todas as instâncias da sociedade, em vista da construção de um mundo novo, no qual “as novidades do desenvolvimento”, as “novas coisas”, não sejam um obstáculo, mas um contributo para a fé e os costumes.
Outra experiência bonita das últimas décadas foi desenvolvida pelo Movimento dos Focolares e veio a ser chamada “economia de comunhão” e implantou-se nas comunidades focolares ditas “mariápolis”. Tem como linha mestra a “participação em comum”, e ideias como doação, gratuidade e reciprocidade.
A preocupação de formar novas gerações de administradores de bens não é apenas eclesial, mas social, pois algumas instituições bancárias têm desenvolvido cursos para preparar os herdeiros de grandes patrimônios financeiros, chamados “novos ricos”, de maneira a preservar e não dilapidar os resultados do trabalho e dedicação de seus predecessores naturais.
Na proposta do Papa Francisco ecoa o ensinamento da doutrina social da Igreja, já aprofundada por São João Paulo II e seus predecessores como indispensável para uma convivência humana saudável e um mundo melhor. E ainda, ecoa uma busca já presente em instituições da sociedade que olham para o futuro vislumbrando sua necessidade de subsistência, num cenário onde a falência corresponde à falta de planejamento de recursos e habilidade em situações de crise.
A Igreja, “perita em humanidade”, não pode omitir-se a dar sua colaboração num tema tão grande e indispensável ao presente e futuro da humanidade. Formar uma juventude de bons administradores e economistas, corresponde hoje a não deixar falir a humanidade, por falta de planejamento.
A “Economia de Francisco” não é um novo sistema, nem pretende sê-lo, mas um convite à conversão, apoiado nos valores evangélicos e cristãos, sem os quais, mesmo na posse de todos os bens deste mundo, jamais chegaria o ser humano ao Reino de Deus e à glória de coerdeiros da vida eterna.
Sem medo, avançamos confiantes!
Padre Rodolfo Gasparini Morbiolo
Orientador Espiritual ADCE Sorocaba/SP – Brasil.
Links para consulta:
Economia de Francisco – https://francescoeconomy.org/it/
Economia de Comunhão Focolares – https://pologinetta.com.br/site/economia-de-comunhao/
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